14 de dez. de 2015

à merda

Eu tenho raiva sim!

e não me digam pra não ter.


É comumente - pra não dizer sempre - exigido da mulher que ela supere, que ela tenha forças, que ela se vire e resolva. Sofra sozinha, aguente, fique calada, não se exponha. Arranje um jeito, arrume uma babá, fique com a mãe, encontre uma bengala, já que o pai foi embora... fazer o quê?

(o abandono paterno é naturalizado, enquanto a mãe deixada sozinha no cuidado é estranhamente vista quando dá sinais de fadiga).

Alguém que pensa isso, já viveu o aborto da paternidade? Já sentiu na pele essa desumanidade cometida contra a mulher e as crianças?

Eu vivo isso nos meus dias. Posso dizer sem medo de exagerar ou não estar sendo exata: é foda.
É, bem resumidamente falando,  ter que lidar de forma integral e solitária com duas crianças pequenas, suas emoções, receios, dúvidas, medos, carências, tristezas, febres, hospitais, escola, rotina, enfim... toda a variação de coisas que se amplia como um leque em seus infinitos e variados tons.

O pai? Será que ainda merece esse título?

O maior esforço que faz é enviar raríssimas mensagens curtas, aleatórias e esparsas, mas foi fingir na justiça que queria guarda compartilhada, mesmo depois de ter se mudado para outro estado. (?!)

Se não fosse tão hedionda, essa situação poderia ter um toque de humor, mas não tem, é de uma extrema sem gracesa.

Estou cansada e não tenho vergonha de expor minhas chagas e dizer para quem insiste em pensar o superar: pode ser também uma forma de nos prender ainda mais nessa teia (mãe-mulher-comportada-boazinha que se sacrifica).

Me recordo da marcha das mulheres pelo Fora Cunha e inspirada na força de muitas mulheres que já não aguentam esse autorizado e apoiado massacre machista, lanço uma fala-reflexão:

Cadê o homem que fez os filhos?

Porque ser pai é todo dia, garanhão.

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