13 de nov. de 2015

Pai por um dia


Ele permeia os dias. Evito falar seu nome, tomou um tônus de divindade ou o seu avesso. Nas brincadeiras está presente enquanto personagem. Um chama o outro por seu nome, ou um finge que é ele, com o outro. Quando alguém faz cócegas neles, é dele que eles lembram e logo dizem: meu papai fazia assim comigo. Durante o dia, não em todos os dias, mas em boa parte deles, perguntam onde está, quando vai voltar, por que foi embora, se eles podem ir atrás, como fazem para estar perto. Ele veio aqui depois de três meses de ausência sem qualquer contato com eles: um de 3 anos e outro de 5. Veio para uma audiência de pensão alimentícia, com passagem de avião comprada com antecedência, mas não veio pro aniversário do filho mais velho, dois dias antes da data. Quis ver os filhos, quis sim, mas não se preocupou/cuidou do vazio que ia deixar na vida deles após sua partida. Passou 1 (um) dia inteiro com eles, não aguentou ficar com os dois juntos o tempo todo -  5 meses de distância cotidiana faz perder o traquejo - mas ficou com o mais velho por mais tempo. Se deu por satisfeito, achou que fez o seu papel de pai, poderia até falar com a família dele, "fui lá, vi, estive com eles". Agora, quer manter a paternidade assim, à distância. "Cismou" que em São Paulo existem melhores oportunidades, arrumou um trabalho pelo qual ele receberia o mesmo, em qualquer outro lugar. Continua entoando justificativas vazias para sua escolha. A verdade desse passo passa bem longe do que sai da boca dele. Por que foi embora? Essa paternidade nunca teve  força o suficiente para fincar o coração perto dos filhos? Ele confunde, o que é até natural de confundir, a relação dele comigo e a relação dele com eles. Justifica que não buscava as crianças porque nós (eu e ele) não estávamos bem. Por isso, a abstenção seria justificada. Quando se fala em abandono ele brada, braveja, nega, xinga.  Mas o que é isso, então?

Ao fim da estadia de 1 dia como  pai, quando já chegava perto da hora dele voltar para o outro estado, o clima de tristeza acometia nós que ficaríamos com essa ausência de afeto.  O filho mais velho repetidamente queria ir com ele, seguia perguntando por que ele não ficava aqui, por que ele tinha que trabalhar longe e não por aqui. Muitas perguntas sem respostas que satisfaçam um amor deixado pra trás. Conseguimos, antes dele entrar num táxi, um último abraço com os filhos. O filho pedia: papai, não vai, eu tô com saudade, fica com a gente... Despediu-se, foi embora.

Em casa, amuado e triste, chorou. Antes de chegar em casa, no percurso que fizemos a pé de onde o pai pegou o táxi até o prédio de minha mãe, choro dele, choro meu... "mamãe, quero ir pra casa da minha avó". Concluiu-se assim uma história de 8 anos de relação e 2 filhos em comum. 

Ele resolveu ir embora sem olhar para trás. 

Isso tudo é o que é dito... fora o que não dá pra se dizer...
Aqui aproveito e dou meu salve aos pais que não abriram mão, mesmo separados, mesmo com todas as dificuldades das relações desgastadas entre um casal que já não se relaciona enquanto tal! Contudo, ainda assim, sabem que a paternidade não é só dever, é direito, é amor. Paternidade é muito para além da relação com a ex, é outra relação, não a mesma. 
Estes pais que são pais, não estão fazendo alguma coisa a mais do que deveriam, estão fazendo exatamente o que devem fazer. Só que outros, a maioria nesse país machista, acha que paternidade é facultativa. 
Tomara que nós, mães sem pai, consigamos passar outros modos de relacionar pra nossos filhos, modos mais comprometidos, afetuosos e menos egoístas. 

Um comentário:

Unknown disse...

Emocionada! Só sabe quem, nos façam sofrer mas deixe eles, pequenos inocentes.